Leia.

Eu sei que mudei nos últimos dias. Não sei se foi bom, não sei se foi ruim. Mudanças às vezes são necessárias. Certo. Muitas vezes não somos nós que escolhemos como devem ser as nossas vidas. Ou melhor, quase nunca somos nós, ou não, ou sei lá. Mas somos nós que fazemos as escolhas. Nós que erramos. Nós que acertamos. Às vezes escolhas balanceadas, às vezes burradas que você pode se arrepender pelo resto da vida. Mas sempre lhe resta a dúvida. Aquela dúvida que perturba, que arrebenta seus pensamentos. Depois disso, vem a escolha. Tentar, ou não? Recuar, e depois se arrepender? Nós nunca sabemos o que vai acontecer, realmente. E por isso erramos, acertamos, e nos arrependemos. Somos humanos. Eu sou humana.
Existem escolhas que podem mudar todo o resto da sua vida. Todo o seu humor, seu dia, ou apenas os minutos que vão se seguir. Mas o que mata realmente, é quando você chega lá na frente, e guarda aquele arrependimento por uma que fez há tanto tempo atrás. Quando poderia ter sido feliz, e não foi. Poderia ter feito alguém feliz, e fracassou. Daí você para e pensa. A vida é injusta. Injusta demais. Depois pensa mais um pouco, e conclui. A vida não é injusta. Você faz sua vida, e você foi idiota demais por seguir no caminho errado. Aí para de culpar a vida, e se culpa pelo resto dela.
É bom voltar atrás quando se tem alternativas pra isso. É bom pedir desculpas. É bom tentar uma última vez. É bom saber que você quebrou a cara, e querendo ou não, vai ter que ir assim, sem outra droga de escolha pra fazer. A vida segue. Eu sei que vou superar, mas não digo que vou esquecer. Sempre vai vir aquela parte do dia, ou aquelas, que vai doer tanto, que sua vontade é sair correndo e fazer uma loucura, ou sentar ali no chão, e chorar até quando não houver mais lágrimas. Sempre vai ter aquele dia que a ferida, cicatrizada ou não, vai arder loucamente, e você (lê-se eu) quase não vai resistir. Sempre vai bater a saudade.
Eu não vou esquecer. Não vou sentir dor pra sempre. Vou me arrepender sempre. Sempre vou achar que fui certa também. Sempre vou ser confusa. Sempre vou sentir sua falta. Me perdoa pelo que eu fui. Me perdoa por não falar daqui 267 dias que "eu te amo muito e que eu sou sua", eu acho que você não vai querer isso, então, quero que seja feliz daqui. Me perdoa por te amar insuportavelmente, insanamente, e também involuntariamente. Me perdoa também por fazer uma droga de texto de despedida que eu nem sei se você vai ler. Eu nunca escrevi tanto assim, e nunca vou saber o que falar. Nos dias de chuva eu vou sentir saudades. Nos dias de sol também. A gente vai se dar bem, cada qual pro seu lado. Nenhum dos dois são descartáveis, você sempre vai ser... Sei lá, só se cuida e vê se não toma o que não deve. Perdão. Felicidades. Sorrisos. Amores sinceros. Ily. Ily? Não. Eu te amo. Eu te amo muito. Eu te amo pra caramba.

Feito. Mal feito. Desfeito.

Vejo os pingos de chuva se juntarem uns aos outros pelo vidro da janela, e escorregarem com rapidez. Lá fora o vento canta, um canto triste, angustiado. O escuro toma conta das ruas, silenciosas por si mesmas. Já deve passar das três, ou das quatro, talvez das cinco. Sim, estou perdida no tempo, deve fazer dias, semanas, ou então quase um mês. Desconheço a razão, ou talvez não queira lembrar. Se disser que não sinto nada, obviamente estarei mentindo. Sinto, sinto sim. Sinto frio, sinto fome, hora ou outra, e sinto vazio. Nem dor ouso mais a sentir. Cansei de sentir vontade abrir as cortinas e ver talvez pessoas felizes caminhando de um lado ao outro, ou então apressadas, escravas do relógio. Me pego outra vez escrevendo coisas sem sentido. Preciso só de mais café, e um bom cobertor que inutilmente me aqueça por fora. Aqui dentro, tudo é oco. Não tenho mais nenhuma pretensão.

Completo, partiu.

Palavras jogadas ao vento, ao fogo, ao chão. Chega de tentar mudar o curso normal da vida, as coisas, o destino. Correr contra o que não tem volta, ou pra quem não tem volta. Andei pensando bastante nas coisas, lembrando bastante das coisas. Um gole de café, outro cigarro qualquer. Minhas noites tem sido longas, tenho tido tempo demais pra analisar. E honestamente, não tem sido bom. Achei as respostas que precisava, precisava, mas não queria aceitar. Agora é a hora de parar pra respirar, encarar as coisas como são. O ponto final chegou, sim, e agora começa um parágrafo novo. Os minutos se tornarão horas, e as horas se tornarão dias. Tudo vai demorar pra passar, mas vai passar. Agora vai, deixe a leve brisa te levar, mas deixe seu cheiro comigo. Vai, sem demora, não olhe pra trás, apenas me deixe aqui, pra de ti sempre lembrar. Mas se caso quiser voltar, eu vou estar no mesmo lugar, assistindo o pôr do sol.

"Era frio. Não sei dizer se fazia mais frio do lado de fora da minha blusa ou dentro do meu coração. Provavelmente competiam."