Feito. Mal feito. Desfeito.

Vejo os pingos de chuva se juntarem uns aos outros pelo vidro da janela, e escorregarem com rapidez. Lá fora o vento canta, um canto triste, angustiado. O escuro toma conta das ruas, silenciosas por si mesmas. Já deve passar das três, ou das quatro, talvez das cinco. Sim, estou perdida no tempo, deve fazer dias, semanas, ou então quase um mês. Desconheço a razão, ou talvez não queira lembrar. Se disser que não sinto nada, obviamente estarei mentindo. Sinto, sinto sim. Sinto frio, sinto fome, hora ou outra, e sinto vazio. Nem dor ouso mais a sentir. Cansei de sentir vontade abrir as cortinas e ver talvez pessoas felizes caminhando de um lado ao outro, ou então apressadas, escravas do relógio. Me pego outra vez escrevendo coisas sem sentido. Preciso só de mais café, e um bom cobertor que inutilmente me aqueça por fora. Aqui dentro, tudo é oco. Não tenho mais nenhuma pretensão.