Embora em segredo, doa.

Enquanto sentada, observando o céu, sem lua, sem estrelas, apenas escuro, se perguntou: "Por que sempre falta alguma coisa?". É uma coisa que atormenta, que dói, que dá sede, que corrói o estômago. Aperta o coração, enche os olhos de lágrimas. Só dói. Dói de doer mesmo, dor física, dor espiritual. Não há remédios. E sentir isso, é o preço que se paga por ter sido feliz, ou apenas um obstáculo pra correr atrás da felicidade de novo? Não soube responder, pela primeira vez, a resposta na ponta da língua pulou pra dentro do corpo e se escondeu em meio a confusão. Fazia um frio cortante. Sentiu saudade da infância. Sentiu saudade de cantar alegre e se lembrou do cantar triste do violão. Não soube o que fazer, queria apenas correr. E assim, o fez. Sem um rumo aparente, apenas correu, por minutos, horas, talvez. Sentiu a garganta secar, as mãos incharem, até que parou. Parou em frente um parque. Pode ouvir o som das corujas nas árvores, no breu da noite fria. O som do vento uivar em meio a um inverno rigoroso. Sentiu as pálpebras pesadas e as pernas pedirem por descanso. Não sabia exatamente onde estava e nem se voltaria, ou se tinha pra onde voltar. Apenas deitou-se ali, em um banco qualquer, naquele parque qualquer. Se encolheu, abraçando-se em piedade, e chorou. Pelo restante da noite apenas chorou. Sentia falta de alguma coisa. Queria uma coisa que não podia ter. Era a dor, de não ter o que queria, e saber que ter aquilo também não poderia.